domingo, julho 30

Gasshô e Reverências
Dogen Zenji disse uma vez: “Enquanto houver reverências verdadeiras, o caminho de Buda não se deteriorá”. Ao fazermos reverências, nós integralmente prestamos respeito à virtude que tudo invade de sabedoria, que é o próprio Buda.

Ao fazermos reverências não devemos nos mover nem apressada nem exageradamente devagar, mas simplesmente devemos manter uma atitude humilde e reverente. Quando fazemos reverências muito depressa, a reverência é displicente demais. Talvez estejamos até nos apressando para acabar logo com aquilo e dar tudo por feito. Isto transmite uma falta de respeito.

Por outro lado, se nossa reverência é muito lenta, ela se transforma numa apresentação um pouco pomposa. Nós podemos estar muito apegados ao sentimento da reverência ou à graciosidade (real ou imaginada) do movimento. Perdemos a atitude humilde que uma verdadeira reverência requer.

Nossa reverência é sempre acompanhada por gasshô, embora o gasshô nem sempre seja acompanhado por uma reverência. Da mesma forma que o gasshô, há diversos estilos e variedades de reverências. Nós trataremos de apenas dois tipos de reverência.

A Reverência de Pé

Esta reverência é feita quando entramos no zendô e quando nos saudamos uns aos outros. A reverência começa com o corpo ereto e com o peso distribuído uniformemente nos pés, que devem estar paralelos um ao outro. A cabeça não se dobra sobre o pescoço. Com as mãos em gasshô, o corpo se inclina na cintura, de tal forma que o tronco forme com as pernas um ângulo de aproximadamente 45 graus. A cabeça mantém-se alinhada com a coluna vertebral e não se deixa o plano dos ombros. As mãos não se movem em relação com a face, permanecendo na posição e movendo-se apenas com o corpo inteiro.

A reverência sentada é feita da mesma forma, exceto que se permanece na posição sentada.

A Reverência Profunda (Prostração Plena)

Esta reverência é mais freqüentemente usada ao começo e ao final das práticas e quando se entra ou sai de uma entrevista formal com um professor. A prostração plena é um pouco mais formal que a reverência de pé, que também requer uma concentração plena enquanto é executada. A reverência em si começa da mesma forma que a reverência de pé, mas assim que o corpo se inclina levemente sobre a cintura, os joelhos se dobram e tocam o chão. Se for preciso, as mãos podem ser usadas como apoio. O movimento continua até que a testa toque o chão. Neste momento as mãos são colocadas no chão com as palmas para cima em cada lado da cabeça. Neste momento o corpo toca o solo em sete pontos: joelhos, ombros, mãos e testa. As nádegas devem ser abaixadas. As mãos são então lentamente elevadas, com as palmas para cima, até um ponto logo acima das orelhas para, logo a seguir, vagarosamente retornarem ao chão. Esta ação das mãos simboliza a colocação dos pés de Buda acima da cabeça como um ato de reverência e humildade. Não devem ser feitos movimentos ríspidos ou abruptos das mãos e dos braços nem devem ser dobrados os punhos ou dedos durante a execução deste gesto. Depois que as mãos tiverem sido levantadas e abaixadas, fique de pé, usando as mãos como apoio, como preciso. Uma vez de pé, coloque suas mãos em gasshô. Ao ajoelhar-se, os joelhos não toca o solo simultaneamente, mas em seqüência: primeiro, o joelho direito, depois, o esquerdo. O mesmo se aplica para as mãos direita e esquerda e para os ombros direito e esquerdo. Na prática, contudo, o intervalo entre o lado direito e esquerdo tocarem o solo pode ser tão pequeno a ponto de não ser notado. Ao fazermos as reverências, os movimentos não devem ser puxados ou desarticulados, mas devem fluir suave e continuamente, sem ruptura ou pausa.

Mestre Obaku, professor do Mestre Rinzai, ficou famoso pela advertência freqüente que fazia aos seus alunos: “Nada esperem dos Três Tesouros”. Ele dizia isto o tempo todo. Um dia, contudo, observaram-no fazendo reverências e desafiaram-no a respeito de sua prática. “Você sempre disse a seus alunos que nada deviam esperar dos Três Tesouros. No entanto, você está o tempo todo fazendo reverências profundas”, disse o questionador. E, de fato, o Mestre Obaku vinha fazendo reverências tão freqüentemente e há tanto tempo que um grande calo havia se formado à sua testa no ponto em que ela tocava o solo. Quando perguntado como explicava isto, Mestre Obaku respondeu, “Eu não espero, simplesmente reverencio”.
Este é o estado de ser um com os Três Tesouros. Vamos apenas fazer gasshô. Vamos apenas fazer reverências.